quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Guia de Ervas Frescas - 1 - Coentro, Hortelã, Salsa e Endro


 Ervas como hortelã, manjericão e estragão têm sido apreciados em todo o mundo por suas propriedades curativas (hortelã para a indigestão, manjericão para problemas renais, e estragão para picadas de cobra). Este guia se concentra em suas aplicações culinárias.

Cultive suas próprias ervas se você puder. Ter ervas frescas minimiza o uso de agrotóxicos, já que não há pressa para utilizar todas as ervas imediatamente.

1-COENTRO

Nomes alternativos: coentro da folha, salsa chinesa, koyendoro, salsa mexicana, chee pak, yuen-sai, coentro verdedhania.
Características: Suas folhas parecem de salsinha, mas nota-se que as folhas são menores e mais o tronco mais esguio.O sabor do coentro é forte e tem cheiro caracteristico. Esta erva aparece nas cozinhas da Índia, México e Vietnã, em pratos como o chutney de manga, abacaxi, entre outros.
Uso na gastronomia: O coentro é muito utilizado na culinária brasileira nordestina e também na região norte.Em pratos como o feijão, baião de dois, pargo assado, muqueca, caldeirada,etc. Em Portugal, é muito utilizado, por exemplo, na cozinha alentejana e noutras regiões do sul do País.

História: Originário do sul da Europa e do Oriente Médio, o coentro já era conhecido e utilizado pelos egípcios, não como tempero, mas como planta medicinal (a ele se atribuíam propriedades digestivas, calmantes e, quando usado externamente, para alívio de dores das articulações e reumatismos), além de possuir efeito afrodisiaco.
Propriedades: É digestivo, anti-séptico e calmante. Na Índia é considerado afrodisíaco, serve para aumentar as glândulas mamárias.
O coentro tem quatro vezes mais caroteno do que a salsa e três vezes mais cálcio do que esta. Tem ainda proteínas, sais minerais, vitamina B e niacina. As folhas são muito ricas em ferro e vitamina C.
Tanto os coentros como a salsa ajudam a neutralizar o hálito do alho.

A tisana das folhas combate ainda a fadiga e alguns tipos de enxaquecas. As suas sementes são um excelente digestivo quando mastigadas depois da refeição.

Alivia dores de estômago em caso de digestões difíceis, vómitos e flatulência, estimulando o apetite e ajudando a secreção gástricos e intestinais.

Na medicina chinesa inalam-se os vapores dos ramos dos coentros e massageia-se o corpo com chá para acalmar a comichão e eliminar as borbulhas do sarampo.

Na antiguidade, os coentros eram mais utilizados pelas suas propriedades medicinais, mas hoje em dia é mais comum serem usados na culinária.

2- HORTELÃ

Nomes alternativos: Podemos dívidi-las essencialmente em dois grandes grupos: a hortelã-verde, hortelã cumum ou mentha spicata, (spearmint em inglês) onde se inclui a nossa hortelã da canja também conhecida por hortelã-das-cozinhas, hortelã- das- hortas ou hortelã-dos-temperos, este grupo inclui as espécies mais utilizadas na culinária, tem sabor refrescante, algo doce, agradavelmente pungente, fazendo algumas vezes lembrar o sabor do limão ou da maçã.
Caracteristicas: As mentas ou hortelãs são as plantas condimentares e medicinais mais utilizadas pelo mundo fora. É uma planta que se hibrída fácilmente, daí existir alguma confusão em relação à nomenclatura de algumas variedades. É uma planta vivaz, herbácea e rústica, da família das lamiáceas (labiadas) cresce em lugares sombrios, em terrenos húmidos e frescos, na beira dos rios e em hortas e pomares.

Variedades: O outro grupo é o da hortelã-pimenta, de sabor muito mais mentolado, mas também doce, forte e picante, deixando a boca um pouco dormente e com hálito agradável e fresco, esta é a mais utilizada para fins medicinais e também na fabricação de chicletes, pastas de dentes e cosmética. É dela que se faz a extração do óleo essencial.

Alguns exemplares deste grupo são a hortelã pimenta preta mentha x piperita piperita, hortelã da montanha (pycnanthenum pilosa), o poejo (mentha pulegium) de sabor muito forte e que deve ser usado com alguma cautela do que os Alentejanos com certeza discordarão, a hortelã brava (mentha arvensis), muito utilizada na cozinha Asiática. A mentha x piperita é um híbrido da hortelã verde e da hortelã d´água.  

Temos ainda a hortelã pimenta chocolate (menthax piperita citrata chocolate) também conhecida por bergamota e muito utilizda na perfumaria e ainda na confeção de sobremesas, hortelã maçã (mentha suaveolens), hortelã da ribeira (mentha cervina) ou erva peixeira muito utilizada na culinária do Alentejo e que tem um aroma semelhante ao poejo, mas folhas muito diferentes.
História: A hortelã é oriunda da região mediterrânica onde cresce espontâneamente e é também plantada, não só nessa região mas um pouco por todo o mundo. Muito utilizada em Marrocos, Turquia e Tunísia mas também no Irã, na Índia etc. A hortelã era muito utilizada pelos Romanos em banhos e perfumes, provávelmente seria a mentha spicata, acredita-se que foram eles quem introduziu a hortelã na Europa. A variedade hortelã pimenta só em 1721 foi introduzida na farmacopeia inglesa (London Pharmacopeia) onde era recomendada no tratamento de problemas digestivos como flatulência, cólica e dores de cabeça de origem nervosa, mas já em 1696 constava nalguns textos. O nome menta vem da mitologia grega: a ninfa Menta surpreendeu Perséfone com Plutão por quem estava apaixonada e foi transformada na planta que tem o seu nome. 
Composição: É rara a menta que possua menos de 50% de mentol chegando mesmo algumas variedades a atingir os 90% que são exclusivamente utilizdas para extração do óleo essencial, têm ainda flavonóides, carvona, aneol, pulegona, resinas, ácidos fenólicos e constituintes amargos. 
Propriedades:  A hortelã é um analgésico, anti-séptico e tranquilizante, sobretudo a nível local e das mucosas do aparelho digestivo, inibe espasmos gastrointestinais e estimula a produção da bílis, relaxa os músculos do estômago facilitando a digestão, relaxa os músculos do esfíncter do esófago, ajudando a libertar refluxos digestivos o que pode também causar sensação de azia.Existem estudos que comprovam que as cápsulas de óleo de hortelã aliviam problemas de cólon irritável. A hortelã é um conhecido vermífugo que se pode utilizar para desparasitar tanto pessoas como animais sobretudo se lhe juntarmos artemísia. É útil no combate a vários tipos de vírus e bactérias incluindo herpes, meia gota do óleo essencial aplicado sobre as temporas alivía dores de cabeça, é ainda muito eficaz como descongestionante nasal e expectorante, em compressas ou quando fricionado alivía dores musculares e reumáticas.Combate ainda bronquite, náuseas, cólicas, diarreia e aftas. É também diurética, estimula a sudorese sendo útil para fazer baixar a febre, alivía picadas de insetos. É um excelente repelente de formigas aplicando um ramo ou umas gotas do óleo essencial nos locais por onde elas andam.

Umas gotas de óleo essencial esfregado na coleira dos cães e gatos mantém afastadas as pulgas, também funciona com poejos esfregados diretamente nas coleiras, no pêlo do animal ou na água do banho.É ainda um bom repelente de traças, as folhas colocadas em camadas dentro de gavetas e armários. 
Uso na gastronomia: A hortelã é uma planta muito refrescante, ideal para tomar no Verão em refrescos ou chá frio ou morno, muito utilizada na confecção de um sem-número de pratos desde molhos vários para acompanhar carne, peixe ou guisados de legumes, molho de abacaxi com hortelã é uma excelente combinação, sobremesas, sopas, geleias etc. Muito usado em carnes de ovelha, carneiro e cordeiro. Indispensável no preparo do drink Mojito, e ótima para fazer geléias e molhos para carnes vermelhas. 
3- SALSA
Nomes alternativos: A variedade mais comum (Petroselinum crispum) tem folhas muito frisadas e é a favorita dos ingleses. A de folha achatada (Petroselinum sativum ou Apinum petroselinum ou Petroselinum hortense), mais comum entre nós, e preferida na gastronomia da Europa e da Índia, é mais resistente, tem um sabor mais forte e contém mais propriedades medicinais. 
História: A salsa é sem dúvida uma das ervas aromáticas mais utilizadas no Mundo. Os antigos egípcios e os gregos chamavam à salsa aipo da montanha e usavam-na para tratar dores no estômago e problemas de bexiga. Os gregos utilizavam-na contra a epilepsia e como regulador do sistema nervoso; para estes simbolizava a festa e a alegria partilhada e costumavam coroar os vencedores das corridas com uma coroa de salsa. Plínio, o Velho, no séc. I -grande conhecedor de plantas- já atribuía à salsa poderes curativos e aconselhava a colocar alguns rebentos nos lagos dos peixes para os curar. Kunzle (1857-1945), um abade suiço grande conhecedor da flora alpina, recomendava a salsa contra o sangue na urina, micções dolorosas e inflamação da próstata. O herbário galês do séc. XII menciona a salsa como geradora de sangue.
Caracteristicas: Utilizam-se as folhas, as raízes e sementes, apesar destas últimas não serem recomendadas para uso interno. Cresce em terrenos planos, nas frestas de rochas e muros. É uma planta vivaz, de caule ereto, e folhas compostas de um verde intenso, lisas ou frisadas, da família das umbelíferas, atinge entre 30 a 60 centímetros de altura.
Composição: Contém óleo essencial, cânfora-de-salsa (apiol)(contra indicado para mulheres gravidas), miristicina, flavonóides, pectina, muita clorofila, taninos, matéria corante amarela, vitamina A, B, C e E, ácido fólico, ferro, cobre, cálcio e fósforo. A raiz contém ainda amido e mucilagem.
Propriedades: É um forte diurético, muito útil no tratamento de retenção de líquidos, reumatismo, gota, infecções da bexiga e cálculos renais, é reguladora do período menstrual e alivia os espasmos. Estimula a produção de leite materno, e tonifica os músculos do útero. É um tónico geral, aliviando a depressão e o cansaço na menopausa. É um tónico digestivo, aliviando flatulência e cólicas. É um refrescante do hálito muito útil depois de ingerir alho. Para as cólicas das crianças, faz-se um leve infusão das folhas que se lhes dá para beber duas ou três colheres depois das refeições. O chá da salsa pode ser usado em lavagens e compressas para picadas de insetos, inchaços dolores, olhos irritados e eczema. As raízes são sudoríferas. Há ainda quem a considere afrodisíaca.
Uso na gastronomia:  Tem grande variedade de usos, seu sabor e aroma combinam perfeitamente com omeletes, carnes brancas, peixes, carnes vermelhas, massas, molhos, arroz, feijão, entre outros.Importante dizer que para o sabor ficar mais acentuado, deve-se colocar a salsa no final do cozimento do prato.
4- ENDRO/DILL
Nomes alternativos: Dill folha, dill semente, endro, aneto.
Características: Esta erva parece uma samambaia mais fina, mais delicada com folhas que são macias, como super pêlos finos, tem aspecto semelhante ao do funcho mas o sabor é muito diferente. Com sabor suave que remete ao da erva-doce, com a qual é muitas vezes confundido.
História: Os Vikings cultivavam uma planta que chamaram de "Dilla", ou "calmante", como um remédio para cólicas em bebês. Essa erva, agora conhecido apenas como Endro/Dill, tornou-se um ingrediente essencial nas cozinhas de todo o mundo.
Propriedades: Antidiarréica, antiemética, antiespasmódica, antiinflamatória, anti-séptica, aperiente, aromática, carminativa, depurativa, digestiva, diurética, dispepsia, estimulante, estomáquica, galactagoga, hipnótica, laxante, resolutiva, supurativo. 
Composição: Óleo essencial (3-4%): anetol, carveol, carvona, cariofileno, limonina, felandrina, eugenol; terpineno; di-hidro-carvoneno; liminina; miristicina; cumarinas: escopoletina, esculetina, bergapteno, umbeliferona. Flavonóides: derivados do kenferol. Ácidos fenólicos: caféico; clorogênico: ácidos graxos (10-20%); fitoesterois: b-sitosterol.  
Uso na gastronomia: Versátil, é usado para aromatizar licores, xaropes e vinagres e para condimentar picles, sopas, cremes e pães. Na Escandinávia, tempera peixes (fritos, cozidos e no "gravlax", quando é marinado e desidratado), batatas, molhos, iogurtes e creme azedo. Pode-se adicionar folhas em saladas e arroz, onde dá um toque refinado, especial, suave e refrescante.
Fico por aqui, no próximo post sobre ervas vou falar sobre Manjericão, orégano, alecrim e cebolinha.Continua...

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